Hospitais de campanha atrasam no Rio e pacientes ficam na fila de espera
Se todas as unidades estivessem funcionando, os hospitais de campanha ofereceriam 1.300 leitos, dos quais 520 de UTI e 780 de enfermaria
Enquanto o Estado do Rio chega à marca de 4 mil casos da covid-19 confirmados em 24 horas (número mais alto até agora, atribuído à ampliação da testagem de pacientes), os sete hospitais de campanha previstos para apoiar a rede estadual na pandemia amargam atrasos. Apenas parte da estrutura da unidade do Maracanã vem funcionando. Os outros seis hospitais — em São Gonçalo, Nova Iguaçu, Caxias, Campos, Casimiro de Abreu e Nova Friburgo — estão com atraso de quase 20 dias nas obras, o que agrava a situação de falta de leitos.
Se todas as unidades já estivessem em funcionamento, os hospitais de campanha ofereceriam 1.300 leitos, dos quais 520 de UTI e 780 de enfermaria. Nesta segunda-feira, 335 pessoas aguardavam na fila por uma vaga de terapia intensiva no estado, e outros 333 em enfermarias.
Um relatório da própria organização social encarregada de erguer e administrar as unidades — o Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas) —, entregue ao novo secretário estadual de Saúde, Fernando Ferry, lista uma série de problemas para montar os hospitais, de questões burocráticas a operacionais. O Iabas já havia alegado que 30% dos funcionários envolvidos no projeto contraíram a Covid-19. Agora, o instituto dá uma nova previsão para as inaugurações: a do Pavilhão B do Maracanã, será na sexta-feira; São Gonçalo e Nova Iguaçu, quinta; Nova Friburgo, domingo; Campos, segunda-feira; Caxias, próxima terça; e Casimiro de Abreu, dia 27.
Dos R$ 836 milhões previstos no contrato, o Iabas já recebeu R$ 256,5 milhões. Segundo a OS, R$ 30 milhões foram investidos e R$ 116 milhões, aplicados em custos operacionais.
Recorde de casos
O documento do Iabas entregue a Ferry — que já manifestou a intenção de mudar a forma de utilização dos hospitais de campanha, que passariam a funcionar como grandes enfermarias — relata até tiroteio. Na última sexta-feira, o superintendente do instituto, Hélcio Watanabe, teria ficado abaixado durante uma hora e meia por conta de um confronto em São Gonçalo. O Iabas destaca que outros episódios semelhantes afastam o interesse de prestadores de serviço e pede reforço do policiamento. A Polícia Federal investiga se o Iabas teve alguma relação com os acusados de fraude na saúde.
O Estado do Rio se aproxima da marca de 3 mil mortos por Covid-19, enquanto a capital chega perto de 2 mil vítimas. Em 24 horas, segundo boletim divulgado nesta segunda pelo estado, o Rio teve 137 novas mortes (119 na capital), totalizando 2.852. A cidade agora soma 1.960 óbitos. O número de casos confirmados disparou: no estado, já são 26.665 contaminados, um salto de 4.427 nos diagnósticos positivos em relação ao último boletim. Em nota, a secretaria destacou que aumentou a capacidade de testagem do Laboratório Central Noel Nutels de 900 para 1.800 análises de amostras diárias.
Troca no comando da Saúde em meio à crise
“Se cheguei até aqui foi porque me apoiei no ombro dos gigantes”. A frase do de Isaac Newton foi a última postagem do médico Fernando Ferry no Facebook. Clínico geral e especialista em HIV, o novo secretário estadual de Saúde, de 53 anos, ganhou notoriedade ao dirigir uma ambulância do Hospital Gaffrée Guinle, onde era diretor, para socorrer pacientes no incêndio no Hospital Badim, na Tijuca. Apesar do respeito da classe, ele já foi acusado de não ter respeitado a fila da regulação no Gaffrée.
Fonte: Exame